terça-feira, 27 de julho de 2010

Longa vida à rebeldia! Uma homenagem a Roberto Piva

Conhecemos Roberto Piva numa época em que éramos militantes libertários, nos anos finais da ditadura militar que assolou este país por mais de duas décadas. Estávamos em um evento no centro da cidade, onde se discutia a luta pela volta à democracia, se a democracia era solução ou não, se a anistia viria, se era recíproca, se não era, se o preço da laranjada em Uganda influenciava o Brasil e se o Hare Krishna era uma prisão ou uma libertação…

No meio daquele burburinho intelectual surgiu a figura do Piva. Na época, de cabelo comprido, bigode e oclinhos redondo, reclamando: “Esse pessoal acha que conhece o operário e sabe o que ele quer! Sabe nada! Eu trepo com operário e eles não estão nem aí para essa discussão toda! É porisso que eu sou a favor da monarquia! Eu sou um monarquista anárquico, ou ainda, um anarco monarquista!”

Naquela época de ferrenho embate ideológico (ou seja, você era a favor ou contra. Branco ou preto…) entendi aquelas transgressões mais como parte da poesia do Piva, e não como uma forma de realmente encarar o mundo, as coisas e as relações entre as pessoas. Só depois de muita água rolar pelos anhangabaús e largossãofranciscos da vida é que percebemos que a evolução humana não é feita apenas por rebanhos afinados ideologicamente que se enfrentam entre sí, tentando consolidar esta ou aquela direção. Existem também catalizadores importantes da abertura da mente das pessoas, para que o debate flua para o que em princípio possa parecer absurdo, mas que de fato é apenas uma aterrisagem na realidade mais dura e simples que existe: o fato de que nem sempre a gente sabe o que deve ser feito, nem para que lado sopra o vento. Nessas horas temos que saber transgredir e escutar o coração e o tesão da gente. Pois essa talvez seja a forma mais explosiva de conhecimento renovador. A rebeldia, juvenil ou não, é um dos principais motores da contestação e, por consequencia, da crítica e da evolução.

Valeu Piva. Fica a tua obra, que é uma das mais expressivas na poesia nacional. Fica a tua opinião, que pode agradar ou não, mas que abre as mentes como um abridor de latas no cérebro do seu robô pederasta:

“Eu sou uma metralhadora em
estado de Graça
Eu sou a pomba-gira do Absoluto”. (Roberto Piva – 1938/2010).

(Por Marrey Peres Jr. – Inverno de 2010)