segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O fenômeno do esquecimento global



Em 1973 foi fundado em São Paulo, mais precisamente na Praça da República, o MAPE – Movimento Arte e Pensamento Ecológico. Idealizado e fundado por um artista plástico espanhol (catalão) radicado em São Paulo, Emílio Miguel Abellá, o MAPE foi descrito em um estudo do Sebrae de 2007 da seguinte forma:


“O Movimento Arte e Pensamento Ecológico (Mape) surgiu em São Paulo, em 1973, formado por artistas plásticos, escritores e jornalistas vinculados aos movimentos contra-culturais e preocupados com a poluição urbana. O Mape se apropriou de estratégias expressivas e simbólicas dos novos movimentos sociais europeus e recorreu especialmente à linguagem artística como forma de expressão, organizando vernissages, happenings literários e atos lúdicos. O perfil de seus membros, sem expertise técnica na área, fez com que o Mape se mantivesse distante dos cargos públicos ambientais e se voltasse mais intensamente para a sociedade civil, inclusive para a mobilização em prol da Redemocratização.”

Fizemos parte do MAPE e do movimento ecologista, principalmente na década de 80. Naquela época, já discutíamos com um interesse enorme e já ligado à nossa própria sobrevivência, temas como:

- A degradação da camada de ozone e o aumento da incidência de radiações solares sobre a Terra, possibilitando o aumento da incidência de tipos de câncer de pele, bem como outros males...
- O aumento da concentração de gases formadores do efeito estufa, principalmente o CO2, que causaria um aumento insuportável das temperaturas na Terra...
- Os gastos insanos com armamentos e máquinas de guerra, nas diversas nações da Terra, consumindo recursos materiais, financeiros e humanos que poderiam, se bem aplicados, erradicar a malária da face da Terra em apenas um ano (só para citar um exemplo...)...
- As mudanças necessárias na mentalidade das pessoas e na economia para que pudéssemos fazer frente à nova complexidade que o mundo enfrenta nos dias de hoje...
- O combate ao autoritarismo e aos preconceitos, como forma de iniciar uma nova era de evolução da humanidade...

Éramos estudantes, escritores, artistas, poetas, intelectuais e trabalhadores que não se contentavam nem com o regime autoritário que governava a maioria dos países da América Latina, naquela época, nem com os evidentes descaminhos que a humanidade como um todo tomava, na utilização dos recursos não renováveis do planeta.

Naquela época,a sociedade brasileira ( e seus porta-vozes na Veja, Isto É, Folha, Estadão, Rede Globo, etc...) tratavam a gente como um quixotesco bando de artistas e anarquistas que queriam colocar um freio na luta que o Brasil deveria empreender para ser promovido de quarto para primeiro mundo... Parecia que éramos um bando de hippies chapados que tinham retornado para casa a pé, vindos de Woodstock...

Hoje eu vi uma propaganda na TV a cabo, onde uma pessoa sai de casa para trabalhar e quando volta a sua casa está tão pequena que ele não consegue mais entrar nela. O pobre executivo fica sentado desolado, do lado de fora do seu prédio de apartamentos... Daí a propaganda corta e mostra um urso polar branco ilhado, no meio do oceano, em cima de um minúsculo bloco flutuante de gelo... Corte novamente e aparece o fatal slogan final, que é algo como: “quando você perceber o aquecimento global, vai ser tarde demais...”.

Não quero apenas pisotear e ficar enchendo com expressões do tipo “a gente avisou”. Muito pelo contrário, o que sempre se quis e continua na pauta de toda pessoa com bom senso e memória neste mundo é que:

- Nós ainda precisamos mostrar às pessoas que se o lucro continuar sendo o único parâmetro de sucesso nossos filhos e netos vão morrer de calor e de desidratação,independentemente de sua classe econômica... esse armagedon construído pela raça humana é a primeira coisa realmente democratizada, em termos globais, que foi criada até hoje...

- Que não é possível combater os problemas ambientais e climáticos, sem uma conscientização de todos os seres humanos e sem a ação de cada pessoa na limpeza do ar, das cidades, campos e oceanos...

- Que não podemos simplesmente dar as costas e esperar que os outros façam por nós...
Essas questões são presentes para a humanidade já desde “meados do século passado”!!!
É por essas e outras que eu entendo que o principal problema da humanidade hoje não é o fenômeno do aquecimento global, mas uma de suas causas raiz: O fenômeno do “esquecimento global”!


Abraços esperançosos...


Marrey Peres Jr.